07 agosto, 2006
The Chieftains – A Coisa Verdadeira
Depois de, neste blog, ter recuperado textos relativos aos Dropkick Murphys, aos Pogues e, lá mais em baixo, aos Clannad, chegou o momento de – passando por cima dos híbridos «celtas» - falar da «real thing», os Chieftains, a propósito da recente edição da colectânea «The Essential» (Nota: a capa da edição portuguesa desta colectânea é diferente da apresentada aqui em baixo).
THE CHIEFTAINS
«THE ESSENTIAL»
RCAVictor/SonyBMG
43 anos de carreira. Cerca de 40 álbuns. Milhares de concertos. Colaborações históricas – desde os Rolling Stones a uma orquestra chinesa ou ao nosso Júlio Pereira. Prémios (um Oscar, vários Grammys...), filmes, honrarias. E, sempre, a simplicidade mesmo que intrincada e a riqueza mesmo que humilde da música irlandesa (e de outras músicas irmãs ou primas: escocesa, bretã, galega, portuguesa, norte-americana, do Québec canadiano...). E, sempre, a utilização de instrumentos acústicos – as maravilhosas uilleann pipes de Paddy Moloney, a saudosa harpa de Derek Bell, os bodhrans, as tin whistles, a concertina, os violinos... – mesmo que, por vezes, «contaminados» por pianos ou guitarras eléctricas. E, sempre, sempre, depois de terem gravado com as maiores estrelas ou de terem pisado os melhores palcos do mundo, o regresso ao pub do flautista Matt Molloy, em Dublim, para jam-sessions intermináveis.
«The Essential», a colectânea agora editada, pode servir perfeitamente como a porta de entrada no universo riquíssimo dos Chieftains. Não substitui, claro, o conhecimento de muitos dos álbuns do grupo irlandês mas é um excelente resumo da sua vida e arte, juntando, no CD1, uma belíssima colecção de algumas das suas mais marcantes baladas, canções de bar, jigs e reels compiladas ao longo de 40 anos (onde não faltam temas compostos para as bandas-sonoras de «Rob Roy» e «Barry Lyndon» e sempre em altíssimo nível), para além de alguma colaborações marcantes como «Full of Joy» (com uma orquestra folclórica chinesa – e quão estranho é verificar como as flautas irandesas se casam tão bem com as flautas chinesas e as «rabecas» irlandesas soam irmãs dos violinos chineses...) ou o o celticaribenho «Santiago de Cuba» (com Ry Cooder, o gaiteiro galego Carlos Nuñez e o «buena vista» Cachaito).
O CD2 é, digamos, o «lado» comercial do álbum. O lado das colaborações com vedetas como os Corrs, Sting ou os Rolling Stones – e aqui oiça-se a folia completa de «Rocky Road To Dublin» com um riff rock tão rock – do «(I Cant’t Get No) Satisfaction»? – lá pelo meio. Não faz mal: o nível está quase (quase!) sempre lá em cima e o «comercialismo» da coisa é facilmente desculpável quando podemos ouvir a voz fabulosa de Van Morrison no soul-gospel «Shenandoah»; a ligação evidente da música «celta» com a country norte-americana em «Country Blues» (um tema lindíssimo com as vozes de Buddy e Julie Miller), num medley de reels com a colaboração do banjo de Bela Fleck ou «Cotton-Eyed Joe» com Ricky Skaggs; a beleza absoluta de «The Foggy Dew» com Sinéad O’Connor, de «Lambs In The Greenfield» com Emmylou Harris ou de «Love Is Teasin’» com Marianne Faithfull; a ranchera deliciosa (com a Irlanda a entrar pelo México dentro, claro) que é «Guadalupe» com Linda Ronstadt e Los Lobos; ou a canção de Natal «Il Est Né/Ca Berger», com as canadianas Kate e Anna McGarrigle (respectivamente, mãe e tia de Rufus Wainwright). (9/10)
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