
Por uma estranha e arrepiante coincidência acabei de ler «À Procura de Sana», de Richard Zimler, na noite em que passavam cinco anos sobre os atentados às Twin Towers, em Nova Iorque. Talvez por isso, a resolução do livro (por muito surpreendente, inesperada e até verosímil que seja) foi a única coisa, a única, de que não gostei nele. Noutro dia qualquer, se calhar, teria gostado. Mas gostei muito do resto do livro. Todo.

Uma das coisas mais bonitas do livro é a constatação de que Zimler - judeu nova-iorquino há muitos anos radicado no Porto - não deixa escorregar um pingo de ódio que seja nesta sua visão do conflito israelo-pelestiniano. Mesmo que esse ódio escorra de algumas das suas personagens (o assustador capítulo dedicado a Jamal, jovem palestiniano com perturbações psiquiátricas, usado - e, depois, provavelmente assassinado - pelos seus e, do outro lado, torturado pelas autoridades israelitas; nas cartas de Helena ou nas manifestações, artísticas ou políticas, de Sana...). Pelo contrário, Zimler demonstra aqui um amor imenso por estes dois povos irmãos desavindos por um destino maior qualquer. E, no fundo, esta é mesmo a história de uma amizade (de um amor) nascido entre duas miúdas, uma palestiniana outra judia, em Haifa (quantas vezes ouvimos o nome desta cidade nos últimos meses?), do seu exílio e da sua conclusão, à luz de... um destino maior qualquer (o seu destino; o destino das suas famílias; o destino dos seus povos...).
Nota: ver post (neste blog) «A Crise No Médio Oriente... e os Asian Dub Foundation».
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