12 outubro, 2006
Balkan Beat Box, Charanga Cakewalk e Toubab Krewe - F de Falso
Segundo os sábios ensinamentos de Orson Welles no filme «F Is Fake» (ensinamentos repegados no último álbum dos Houdini Blues), muitas vezes aquilo que parece não o é, mesmo que o eco de uma realidade qualquer seja muito parecido com a realidade ela mesmo e, por vezes, seja ainda mais real que o real. Mas o F de que se fala aqui - a propósito de álbuns dos projectos Balkan Beat Box (na foto), Charanga Cakewalk e Toubab Krewe - é de Falso, sim, mas também de Festa, de Folia, de Fusão, de Felicidade e de... Fãs.
BALKAN BEAT BOX
«BALKAN BEAT BOX»
Essay Recordings
Os Balkan Beat Box são dois israelitas radicados há muito em Nova Iorque, Ori Kaplan e Tamir Muskat, que com a ajuda de mais um punhados de excelentes músicos fazem neste seu álbum de estreia uma estranha e excitante fusão de música dos... Balcãs (estão lá as secções de metais típicas da música cigana do leste europeu), sim - o nome da banda não engana muito, apesar de tudo -, mas onde há muitas outras coisas metidas a este barulho bom: beats tecno, trance, hip-hop, rock e funk qb, ska, dub, klezmer, um cheiro «misterioso» a vozes búlgaras (em «Bulgarian Chicks»), flamenco, música mandinga, música árabe, turca e gnawa (esta no fabuloso «Hassan's Mimuna»). E sem deixar até de fazer apelos à paz e à concórdia entre os povos (em «La Bush Resistance»). E, sempre, com uma enorme fluência orgânica entre as várias componentes deste som. Devem ser excelentes ao vivo. O F é de Falso, mas é também de Fanfarras. (8/10)
CHARANGA CAKEWALK
«CHICANO ZEN»
Triloka/Artemis Records
Charanga Cakewalk é o projecto de um texano de origem mexicana, Michael Ramos (teclista e acordeonista de John Mellencamp, Paul Simon, The Bodeans e The Rembrandts), que se estreou em disco sob esta designação com «Loteria de La Cumbia Lounge» e lançou há alguns meses o segundo álbum, «Chicano Zen». Um álbum que faz por vezes lembrar Esquivel, no sentido de adaptar músicas tradicionais latino-americanas (principalmente mexicanas) a um cocktail dançante e, usemos um palavrão ou dois, obviamente agradável e simpático. Um Esquivel moderno e actual. Mas, outras vezes, está muito perto da tradição (como na deliciosa «La Miga Hormiga», «Amor Profundo», «No Soy Feliz»...) e aí sente-se um apego e uma paixão enorme pelas raízes. Na receita entram, em doses variadas, exotica, lounge, chill-out, rancheras, mariachis, boleros, cumbias, polkas, merengues e quase tudo faz, quase sempre, sentido. No lote de vozes convocadas para este álbum estão as de Lila Downs, Ruben «El Gato Negro» Ramos, Patty Griffin, Martha Gonzalez (dos Quetzal) e Davíd Garza. O F é de Falso, mas é também de Fascinação. (7/10)
TOUBAB KREWE
«TOUBAB KREWE»
Upstream Records
Ouve-se e, por vezes, muitas vezes, não se acredita no que se ouve: os Toubab Krewe são um grupo norte-americano, formado por cinco músicos brancos, mas a música que fazem tem como base a música mandinga e parece, parece mesmo!, mandinga muitas vezes. Andam por aqui koras, ngonis e percussões da África Ocidental à mistura com guitarras eléctricas, baixo, bateria. E o resultado dos ensinamentos colhidos em numerosas viagens a África e - certamente - na obra de Ali Farka Touré, Toumani Diabaté ou Ba Cissoko encaixam como uma luva nas outras influências que o grupo expõe com humildade: os blues, o hard-rock (com os Led Zeppelin, muito naturalmente, à cabeça), o prog, a country, o reggae, a surf music, a música cubana... E tudo isto feito com um amor e um talento inacreditáveis. O quinteto foi formado apenas em 2005, este é o primeiro álbum dos Toubab Krewe, mas a coerência e inventividade destes rapazes pressuporia que eles andam a fazer isto há muito, muito mais, tempo. Que o façam, pelo menos, por muito mais... porque aqui o F é de Falso, mas é também de Futuro. (8/10)
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