07 outubro, 2006

Funk, Disco e Rock Latinos dos Anos 70 - Revolución!


O excelente artigo de Mário Lopes, no «Y» de ontem, sobre Sly & The Family Stone e sobre o funk como expressão das reivindicações negras nos Estados Unidos, fez-me recuperar dois discos mais ou menos recentes sobre um movimento paralelo, se bem que com muito menor exposição pública: o rock chicano e o funk e disco-sound latinos (mesmo que feito em França ou na Bélgica!) da década de 70. Um bom cheirinhos disto tudo está nestas duas colectâneas de que aqui se fala - «Revolucion - The Chicano's Spirit» e «Latin Funk Flavas» -, que agrupam nomes como El Chicano, Sapo, Azteca, Tierra, Flash & The Dinamics, Massada, Candido, Kongas ou Joe Bataan (na foto).


VÁRIOS
«REVOLUCION - THE CHICANO'S SPIRIT»
Follow Me Records

Muitas vezes o facto é esquecido, mas a verdade é que um dos primeiros heróis do rock'n'roll era de origem mexicana: Ritchie Valens, o jovem cantor de «La Bamba», morto no mesmo acidente de aviação onde também pereceria Buddy Holly. E que um dos vencedores absolutos de Woodstock tinha também sangue mexicano: Carlos Santana. Quem não o esqueceu foi a geração de bandas que despontou imediatamente a seguir, nos Estados Unidos mas nunca esquecendo a raiz mexicana, latina, da sua música, e a ela juntando, muitas vezes, as características de reivindicação política e de identidade própria que também caracterizavam o funk (maioritariamente) negro e até boa parte do rock (maioritariamente) branco da altura. «Revolucion - The Chicano's Spirit» agrupa gravações de bandas de imigrantes mexicanos das grandes metrópoles californianas (Los Angeles e San Francisco), nascidas nos guetos latinos (os «barrios»). Nele encontram-se temas de grupos e artistas bastante representativos do «género»: Coke Escovedo, El Chicano, Juan Carlos Caceres, Tierra, Malo, Sapo, Massada... E os temas, cantados em inglês e espanhol, têm ecos de salsa, de boogaloo, de rumbas e de formas musicais mexicanas mas há, aqui, essencialmente, rock, funk, psicadelismo, blues revistos pelos Doors em contexto mariachi, ou referências óbvias ao mix «afro-latino» de Carlos Santana e várias tentativas (umas mais bem conseguidas, outras menos) de emular a sua guitarra eléctrica. Mas em «Mazatlan», dos Azteca - o melhor tema da colectânea -, há blues, funk, soul, jazz de fusão, psicadelismo e latinismo q.b. para poder ser um clássico ao nível dos de um Jimi Hendrix, de uns Doors ou de uns Jefferson Airplane... (7/10)


VÁRIOS
«LATIN FUNK FLAVAS»
Salsoul/Bethlehem

Com os Tierra (também presentes em «Revolucion...») como elo de ligação entre estas duas colectâneas, «Latin Funk Flavas» - da editora norte-americana Salsoul (o nome não é inocente: a sílaba «sal» vem de... salsa, enquanto «soul» não é preciso explicar...) - faz um apanhado de temas antigos da editora, lançados nos anos 70, quando o funk e o disco-sound reinavam nas discotecas. E a compilação é um desfile inacreditável de canções festivas e absolutamente dançáveis (aqui não há intervenção política) que fazem a ponte perfeita entre esses ritmos norte-americanos e ritmos vindos de mais a sul, sem complexos nem barreiras: salsas, sambas, rumbas, mambos, cha-cha-chas (e experimentalismos e fusionismos entre todos estes géneros)... No rol estão o histórico afro-filipino de Nova Iorque Joe Bataan (um dos primeiros campeões de vendas da Salsoul, aqui em três temas, um deles uma versão de Gil Scott-Heron), o percussionista Candido, os misteriosos District of Columbia, os espantosos franceses Kongas (com dois temas fresquíssimos e completamente surpreendentes, «Anikana-O» e «Kongas Fun»), os belgas Chocolat's (eles e os Kongas parecem anunciar, com alguns anos de avanço, vários caminhos do pós-punk nova-iorquino!), Gary Criss (com um tema, «Rio de Janeiro», que está entre Sérgio Mendes, a banda-sonora do «Shaft» e algo de deliciosamente foleiro), The Anvil Band, Jimmy Castor, os «chicanos» Tierra (aqui com um irresistível «Baila, Simon») e The Salsoul Orchestra (com o escaldante «Ritzy Mambo»). (8/10)

3 comentários:

ANNA-LYS disse...

I guess this is an interesting blog ... I surely recognize a lot of artists you mension above. Artists that avake menories from past time.

You mensioned in my blogpost that Cliff Richard grow Winegrapes in Portugal, is it nearby where you are living?

SUPERLAGE disse...

Oi!

Como faço o download desse disco?

essse blog está nos meus favoritos e vou tocar muito nas pistas o que estou baixando aqui.

Valeu!!!!

António Pires disse...

Caro Eudes:

Olhe que este blog não tem downloads para fazer! Mas acho que estes dois discos estão disponíveis em várias lojas «físicas» e também lojas online... Muito obrigado pela visita e um grande abraço!

António