15 janeiro, 2007
Buraka Som Sistema e Frédéric Galliano - O Kuduro Oficializado
Música das margens, o kuduro angolano - à semelhança do kwaito, do baile funk, do reggaeton ou do zouk - vai a pouco e pouco afirmando-se como uma realidade musical a ter em conta na actualidade e para os próximos muitos anos. Dois discos editados o ano passado - o EP «From Buraka To The World», dos Buraka Som Sistema (na foto), e «Frédéric Galliano Presents Kuduro Sound System» - vieram dar visibilidade e, de certa forma, respeitabilidade ao género. Nos dois textos não uso a palavra «dança», mas ela está lá sempre.
FRÉDÉRIC GALLIANO
«FRÉDÉRIC GALLIANO PRESENTS KUDURO SOUND SYSTEM»
Frikyiwa/Nocturne
Figura de proa da cena electro francesa, o DJ e produtor Frédéric Galliano nunca escondeu o seu amor pelos Kraftwerk e, no pólo oposto do «termómetro», por músicas mais quentes como o jazz e, principalmente, a música africana. Álbuns como «Frédéric Galliano Presents The African Divas» e a editora Frikyiwa, que fundou há alguns anos para lançar discos de música africana (principalmente da zona mandinga) dão conta dessa sua paixão. O ano passado atirou-se a Angola, editando na Frikyiwa colectâneas de Paulo Flores, Manya e Dog Murras e este «Frédéric Galliano Presents Kuduro Sound System», em que Galliano mergulhou na fabricação do kuduro - uma música feita à base de uma mistura explosiva de semba e sungura, zouk e kizomba, tecno e hip-hop. Produzido e composto em Luanda, com Galliano a ser acompanhado na criação dos beats pelo DJ Kito da Machina, a gravação do álbum convocou a voz e as rimas de algumas das figuras de proa do kuduro angolano como Tony Amado (considerado o inventor do kuduro), Dog Murras, Pai Diesel, Zoca Zoca, Pinta Tirrú e Gata Agressiva. O resultado é um kuduro mais elegante, descarnado e sofisticado, às vezes com reverberações dub, ecos de electro e aproximações ao drum'n'bass, mas que nunca deixa por isso de ser kuduro. (7/10)
BURAKA SOM SISTEMA
«FROM BURAKA TO THE WORLD»
Enchufada
Se em relação a «Frédéric Galliano Presents Kuduro Sound System» usei as palavras «elegante» e «sofisticado», estas mesmas palavras ganham, ouvindo-se o EP de oito temas «From Buraka To The World» dos Buraka Som Sistema, um sentido muito maior. Inesperada (ou nem por isso) revelação da música produzida em Lisboa o ano passado, os Buraka Som Sistema são um colectivo formado por Riot (One Week Project), Lil'John (Cooltrain Crew/Enchufada/One Week Project) e Conductor (do grupo rap Conjunto Ngonguenha), com a ajuda de alguns amigos como Kalaf ou Petty, isto é, um grupo que tem raízes em locais tão variados quanto Portugal, Angola, Moçambique ou Índia. Reflexo natural de uma realidade lisboeta em que gente de todo o mundo (principalmente das antigas colónias portuguesas, do Brasil a Angola, passando por Cabo Verde e Moçambique) faz música em conjunto, os BSS vão ao kuduro como base programática do seu som (por exemplo, são raras as linhas de baixo na sua música), mas têm também consciência de que o kuduro faz parte de uma irmandade maior em que também entram o baile funk, o reggaeton, o rocksteady, o grime, a house e o hip-hop, géneros que nos BSS contribuem todos para um som novíssimo, hiper-inventivo e bastante elaborado musicalmente. A outra palavra, «descarnado», não entra portanto aqui - e neste caso ainda bem. (9/10)
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