05 janeiro, 2007

José Castro - O Mistério do Homem-Árvore


Um dos projectos mais fascinantes da música portuguesa dos últimos anos - projecto que, infelizmente, passou despercebido a quase toda a gente - tem como protagonista o cantor, músico e compositor José Castro (na foto, de André Szankowski). Aqui recupero uma entrevista com ele, publicada originalmente no BLITZ em Fevereiro de 2005, a propósito do seu único álbum até à data, «Tree of Life».


JOSÉ CASTRO

«Tree of Life» é um álbum estranho que tanto inclui pop electrónica como temas épicos à Peter Gabriel, guitarra portuguesa e acordeão, música brasileira, cabo-verdiana e, eventualmente, mensagens ecologistas. Estranho mesmo, mas um pouco menos quando se ouvem as explicações de José Castro.

Numa das canções de «Tree of Life», «Melting Man», José Castro canta sobre um «homem que derrete antes de ficar árvore», conceito que é desenvolvido visualmente nas fotografias do disco. E é essa «fusão» que assombra todo o álbum: homem/natureza, magia/realidade, músicas de agora/sonoridades ancestrais. «Tree of Life» é um disco conceitual - o primeiro de uma trilogia -, onde poderiam constar os nomes de Peter Gabriel, Brian Eno e David Byrne. Mas não; consta lá o de José Castro, cantor e compositor português que reconhece a sua admiração por esses nomes, «pelo rock progressivo, pela música ambiental» e por músicas étnicas.

Mas as suas raízes, curiosamente, estão em áreas bastante distantes: «na adolescência fiz parte de bandas de hardcore e de death-metal, sempre a tocar bateria. Depois passei para a guitarra. E foi há quatro, cinco anos, que comecei a desenvolver este projecto a solo». Um projecto cujo conceito foi sendo desenvolvido ao longo dos anos e que teve como molas fundamentais alguns momentos da vida de José Castro: «Fiz um filme, na sequência de um curso de vídeo, chamado "A Porta do Bosque", baseado em textos de Jorge Guimarães. Era um diálogo de uma árvore com o Homem e as suas diferenças. E, depois, em Londres, fui jardineiro de profissão». Essa ligação temática da sua obra às árvores pode fazer pensar em ideais ecologistas mas José Castro diz que «isto não é uma coisa ecológica, embora tenha essa vertente. A ideia é o Homem "estar parado" - como as árvores - mas nem é tanto parar para pensar, é mais parar para sentir». Musicalmente, José Castro diz que «tudo pode entrar na minha música, desde que faça sentido e seja verdadeiro. A música começa com uma raiz e desenvolve-se a partir daí. No tema "Mocambo", que tem a ver com a Madragoa, faz sentido que haja ali uma guitarra portuguesa».

No álbum, José Castro toca muitos instrumentos (de guitarra a percussões passando por tubos PVC, banjo indiano, bandolim, baixo, flautas...) e participam - entre outros - o acordeonista Gabriel Gomes (Sétima Legião/Madredeus/Tjak...) e Bernardo Couto em guitarra portuguesa. Ao vivo, José Castro é acompanhado por uma banda de amigos - «com os quais aprendo imenso; eles são todos melhores músicos do que eu» - formada por Bernardo Barata (guitarra), com quem José Castro já tinha tocado «nas tais bandas de hardcore», músicos dos TV Rural e dos Oioai e «uma pianista de formação clássica nos teclados», Joana Vaz. As sementes estão lançadas.

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