31 outubro, 2006
WOMEX - Todo o Mundo num Palácio
A WOMEX decorreu este fim-de-semana em Sevilha com centenas de participantes na feira e milhares de pessoas de todo o mundo a circular entre os concertos. São centenas de anos de música e todos os quilómetros quadrados da Terra concentrados num palácio de Sevilha de cúpula dourada.
Concertos, showcases, mostras paralelas, foram às dezenas. Da máquina sonora com 19-elementos-19 da fabulosa La Etruria Criminale Banda (na foto), grupo italiano que mistura ska, punk, klezmer, Balcãs e jazz selvagem à John Zorn, big-band com duas secções de metais, duas baterias, laptop, etc, etc... à beleza de The Shin/Project "EgAri", que junta jazz, flamenco e canto e música tradicional georgiana. Da abertura de novos e excitantes caminhos para a música cigana dos Balcãs feita pelos sérvios KAL à tentativa de emulação de Ali Farka Touré feita por Afel Bocoum (no seu trabalho de guitarra... e até num chapéu). Da constatação de que, ao vivo, o francês Sergent Garcia é acompanhado por uma bandona e aquilo é muito mais orgânico, salseiro e festivo ao encantamento dos Adjagas, um gnomozinho e uma fadinha noruegueses a cantarem canções yoik com banda indie Cocteau Twins/Low/Spain por trás. Da confirmação do cabo-verdiano Tcheka (mais, muito mais do que no África Festival em Lisboa) como um enorme compositor, cantor e guitarrista ao delírio klezmer/árabe/Balcãs/surf-rock dos israelitas Boom Pam, com tuba a fazer de baixo e guitarras eléctricas entre Dick Dale e os Beach Boys.
E mais, muito mais. O efeito Peste & Sida dos andaluzes Eskorzo. A música ancestral dos egípcios El Tanbura. O híbrido, quase sempre bem conseguido (ai, os sintetizadores), entre a tradição e a modernidade da fabulosa cantora turca Aynur. O ritmo infernal dos tambores que rodeiam a cantora colombiana Petrona Martínez (na linha de Toto La Momposina). A pop bem feita mas apenas pop dos também colombianos Aterciopelados. O rock global e bastas vezes alucinado do croata Darko Rundek. A fusão nem sempre feliz de música árabe com electrónicas do projecto multinacional Orange Blossom (que nos melhores momentos faz lembrar os Ekova e nos piores os... Deep Forest). O virtuosismo do bandolinista brasileiro Hamilton de Holanda. A festa dos veteraníssimos catalães Los Patriarcas de La Rumba (devem ser todos eles os avós dos Ojos de Brujo!). A mistura, igualmente festiva e absolutamente dançável, de ritmos cubanos com jigs e reels dos escoceses Salsa Celtica. O acordeão alucinado do catalão Tomás San Miguel com as gémeas Txalaparta (que tocam, claro e tão bem!, txalaparta) e um dos Dissidenten nas percussões... E todos os outros que eu não vi, porque era impossível ver tudo (horas e horas de concertos à noite, sempre três em simultâneo em três locais diferentes, um deles, o pavilhão, infelizmente com um som pouco aceitável para um evento destes).
Na feira, durante o dia, o formigar de gente de todos os continentes - e ligada a estas músicas de todo o mundo - dava ao Palácio dos Congressos-FIBES um aspecto de Nações Unidas freak ou de um Baile de Máscaras global. Editores, produtores de espectáculos, agentes, bandas, estruturas governamentais dos países mais esclarecidos (pois: na WOMEX não há nenhum stand do ICEP nem da Secretaria de Estado da Cultura portuguesa nem...). Gente de todo o lado e de Portugal também: dois para a estrutura que junta várias empresas portuguesa, Musica.pt; outro dos Dazkarieh (quase sempre com animadas jam-sessions que juntavam os músicos portugueses a muitos outros); outro dos Blasted Mechanism (o mais cyber de toda a WOMEX, com as máscaras do grupo e a adição de baterias eléctricas feitas com... limões, cortesia de um eco-activista inglês); do Sons em Trânsito; da Bartilotti Produções/Megamúsica.
E, como é habitual na WOMEX, as actividades foram coroadas com o anúncio dos nomeados para os apetecidos Prémios de World Music da BBC - Radio 3, este ano com dois nomes portugueses (e de sangue africano) no rol - Sara Tavares (na foto; autoria de Jurrien Wouterse) e Mariza - e algumas surpresas. A lista completa de categorias e nomeados é este ano como segue: África - Ali Farka Touré (Mali), Bongo Maffin (África do Sul), Mahmoud Ahmed (Etiópia) e Toumani Diabaté (Mali). Américas: Ben Harper (Estados Unidos), Fonseca (Colômbia), Gogol Bordello (Estados Unidos) e Lila Downs (México). Médio-Oriente e Norte de África: Les Boukakes (Argélia/França), Ghada Shbeir (Líbano), Natacha Atlas (Egipto/Reino Unido) e Yasmin Levy (Israel). Ásia/Pacífico: Anoushka Shankar (Índia), Dadawa (China), Debashish Bhattacharya (Índia) e Fat Freddy's Drop (Nova Zelândia). Europa: Camille (França), Lo’Jo (França), Mariza (Portugal) e Ojos de Brujo (Espanha). Revelação: Etran Finatawa (Niger), K’Naan (Somália), Nuru Kane (Senegal) e Sara Tavares (Portugal/Cabo Verde). Fusão: Aida Nadeem (Iraque/Dinamarca), Maurice El Medini & Robert Rodriguez (Argélia/Cuba), Ska Cubano (Reino Unido/Cuba/Jamaica) e Think of One (Bélgica/Brasil). Dança/Discoteca Global: Balkan Beat Box (Estados Unidos/Israel), Cheb I Sabbah (Argélia/Estados Unidos), Gotan Project (França/Argentina) e Mercan Dede (Turquia/Canadá).
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5 comentários:
Belos gnomozinhos e fadinhas da lapónia...
Gostaste de Tomás san Miguel? Não curti nada as programações e achei as moças um bocadinho pró básico... só mesmo o Tomás San Miguel é que valia a pena.
Não viste o Juan Mari Beltran? Fdp de concerto... e o do Karl Seglem também.
Quem és tu Anónimo?
Gostei mesmo muito do Tomás San Miguel e das gémeas txalapartistas (parecem o espelho uma da outra, mesmo nos movimentos das baquetas sobre as tábuas de madeira) e também gostei muito do Juan Mari Beltrán - que raio de esquecimento não ter falado nele no texto! Adorei a banda e a maneira como ele toca alboka e aquele violinozinho (não sei como se chama o instrumento). Mas não vi o Karl Seglem...
Olá António, esqueci-me de assinar...
pois... enquanto estavas no Tomás San Miguel fui até ao Off womex ver o Karl Seglem.
O Beltran é mesmo coisa fina. É bem provável que passe por cá em 2007.
abraço
yggdrasil
Olá, olá!
Prometido é devido.... ainda que timidamente (a net não é novidade mas confesso q ñ sou uma participadora activa nos blogs.... ok, ok, mea culpa!), cá estou eu a fazer aquele que é o meu primeiro comentário (olha a honra!!!).
Devo confessar que os showcases da Womex deste ano me desiludiram um bocadito...
Gostei da La Etruria Criminale Banda, dos Kal, do Sergent Garcia e da Boom Pam; porém, tenho certeza de que gostaria bastante mais se, os showcases tivessem sido numa sala em condições, com um PA em condições. Perderam muito naquela sala...
Fiquei na dúvida em relação aos Niyaz... Metade do concerto foi má e, a outra metade menos má....
Viste? O q achaste?
Quanto a mim, incontestavelmente bons, por razões totalmente diferentes, foram o grande Senhor Darko Rundek (e a "sua violinista" que deixou toda a gente a olhar para ela...), Tcheka, o sedutor ;) e a Aynur, se tirarmos os tais feedbackzitos...
Tens de me desculpar, mas não concordo contigo, em relação ao Tomás San Miguel! Gosto das maninhas e da sua txalaparta agora o resto... hum...digamos que não me encheu as medidas...
E este é o meu primeiro post que, já vai bastante longo.
Mas vou tentar continuar ;P
Beijinhos da comunidade mourisca,
CriX
Olá Cristina!
É uma honra receber-te neste humilde estabelecimento!... Pois, eu sobre os concertos da Womex (e sobre a qualidade de som do pavilhão, isto é, sobre a não-qualidade de som do pavilhão - é uma pena como a mais importante feira/festival de world music tenha alguns concertos com um som pior do que muitos concertos de aldeia em Portugal...) já disse o que tinha a dizer no texto publicado no blog.
Só três ou quatro coisas àcerca do que escreveste: não vi os Niyaz, mas tenho bastante curiosidade acerca deles (e acerca da sua vocalista, Azam Ali, que também tem agora um álbum a solo) e... a/o violinista do Darko Rundek não me enganou (a sua pose «macho» enquanto tocava, os músculos nas pernas e nos braços, etc... Mas só depois é que me informaram que ela/ele era transexual... Foi só mais uma coisa a aumentar a estranheza e o efeito quase Frank Zappa do concerto do Darko Rundek...). E achei a Aynur uma cantora fabulosa - ainda por cima ela esteve sempre num stand da feira, discreta e sorridente, e transformou-se numa diva absoluta no concerto - mas a base musical é às vezes fraquinha (há ali um efeito-Clannad de sintetizadores que não me agrada nada...). Ah!, e percebo que tenhas gostado do Tcheka ;)
E é claro que podes discordar sempre - seja em relação ao Tomás San Miguel (pelos vistos só eu é que gostei!!!) seja em relação ao que for... Gostos discutem-se, claro!
Beijinhos para a comunidade mourisca (com ou sem licores de alfarroba, canela, poejo e amêndoa - era amêndoa?... - a ajudar)
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